Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

sábado, abril 18, 2009

A Arte do Engano - "de Krikas a Madoff"



I. Existe um velho aforismo não sei bem se dos Gregos ou de Kung-fu-tze (Confúcio): "Podes enganar alguns durante muito tempo podes enganar todos durante pouco tempo, mas não esqueças de que não podes enganar para sempre".
Uma vez perguntei ao meu amigo Carl se não sentia remorsos de enganar as pessoas. Prontamente retorquiu-me que não enganava ninguém que não quisesse ser enganado pois a cobiça, o desinteresse ou a necessidade de mostrar que se tem é que faz com que sejam enganados; ele apenas alimentava algo dos outros ficando na troca com um valor qualquer.

II. "A necessidade aguça o engenho"
O meu amigo Carl era de facto, e julgo que ainda é, um visionário. Já nos idos anos sessenta com um grupo de compinchas apoderaram-se do sino da nossa Igreja. O acto surgiu da necessidade de ir a Woodstock; assim venderiam o bronze a peso e lets go to sex, drugs & rock-roll.
Sendo o bronze uma liga que contém cobre logo ficam a perceber a precocidade da ideia 40 anos antes do roubo do séc. XXI a do dito Cobre.
Já na Figueira quase ia perdendo a vida ao negociar com um celebérrimo junkie da zona: pegou em analgésicos, ao que me lembro de nome Optalidon, pintou-os de outras cores e vendeu-os como ácido ou anfetas. O flipado que era mesmo muito flipado deu com o logro e quis esventrá-lo. Não sei o que se passou a seguir, com duas de conversa, os dois lá venderam o produto marado as uns kekes de Coimbra morrendo por ali apenas a discórdia.

III. “A maior glória não reside no facto de nunca cairmos mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda”
No fulgor do peace and love , apeteceu-lhe conhecer a Europa. A certa altura teve que recorrer à embaixada portuguesa em Viena de Áustria com o intuito de telefonar ao pai. "Pai manda-me dinheiro para esta embaixada para eu poder regressar a Portugal!"
Tudo bem até aqui, o jovem apenas quis conhecer o mundo. Só que 15 dias depois : "Pai estou na embaixada portuguesa em Paris, tens que me mandar mais dinheiro para o Sud Express!"
É claro que na pouca vida activa que teve chegou a ser o melhor vendedor da BMW. Voltou a cair, voltou a levantar-se como empresário da noite, até chegou a ter das melhores clínicas de Saúde em Lisboa. Ao que sei anda por aí! Tal como o Santana , não se admirem de um dia destes estar no Governo ou à frente de um Banco talvez num desses começados por B…
Verdade foi o que ele me disse uma vez quase a comemorar os seus 50 anos , muito poucos conseguirão fazer e viajar tanto como ele com tão pouco ou nenhum trabalho.

IV. “O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem”
Numa tarde solarenga e prazenteira de Julho fomos a Coimbra comprar umas roupas à Fetal, ver umas gajas e beber um fino no amigo Álvaro do afamado restaurante Giro.
Só que próximo da esquina do amendoim na rua Adelino Veiga , estava um homem corpulento, tez bronzeada e bigode farto a vender rádios e auto rádios com grande alarido mostrando as enormes e extremas capacidades dos seus produtos. O Carl não resistiu, tal como a abelha que procura o mel, e logo se iniciou uma retórica em torno dos produtos à venda que faria calar os Gregos. Após uns bons minutos uma enorme multidão já assistia a argumentação e contra-argumentação até o corpulento homem dizer:
Afinal quem é aqui o cigano? Tome lá este rádio e vá-se embora que me destrói a freguesia".
Ao amigo Carl (nunca fui enganado, penso eu...) um grande bem-haja pela sua lição de vida e aos Pampilhosenses que nunca se esqueçam que ele nos safou em diversas comédias complicadas.
Voltando ao nosso mundo gostaria de vos deixar alguns pensamentos antigos que se adaptam ao nosso triste quotidiano: não se esqueçam que por muito duro seja o que nos reserva o futuro tem que ser cada um de nós a contribuir para a mudança.

VI. Sobre a actualidade económica
Muitas vezes, observando a quantidade de objectos à venda, dizia a mim mesmo: "Quantas coisas me são desnecessárias!".
Aquele que não prevê as coisas longínquas expõe-se a desgraças próximas.

VII. Sobre a vida e a sociedade
Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais.
Ser ofendido não tem importância nenhuma a não ser que nos continuemos a lembrar disso.

VIII. Sobre a Politica
O mestre disse: "Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas não a compreendê-la"
A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem.

P.S.: infelizmente a falcatrua é uma causa portuguesa, com certeza. Cabe-nos mudar esta pesada herança.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Urge Nacionalizar os Bancos da Pampilhosa


Para mim o Banco mais carismático da Pampilhosa é o denominado banco dos reformados, banco este que se encontra à entrada da Estação e em frente da não menos célebre tasca do Aires,local de peregrinação avulsa, de reformados e ante-aposentados do trabalho que faz calo,zona de franco convívio entre 2dl de bom tinto ,3 palmos de diz que disse, quem anda a comer quem, e de que os políticos e os das finanças são todos uns filhos da...dita.
Este saudável banco deve ser preservado a qualquer custo e não deve ser arrastado para a falsa e teatral crise que andam para aí a inventar, pois ele é a personificação mais fiel da alma lusitana, ícone do verdadeiro dolce far niente legado pelos ancestrais muçulmanos, observação, espírito critico e perspicácia q.b. herdado dos celtas e zona de feira e encontro social herdado dos fenícios.Urge portanto nacionalizar o Banco dos Reformados para que assim sempre figure para a posteridade ,longe das artimanhas politicas e economicistas da actualidade.Viva o banco dos reformados abaixo a engenharia financeira.
Confesso que o banco que mais saúdo e o meu predilecto é o banco do Freixo,porque sempre foi o banco mais eco turista da Vila , foi o banco que mais assistências fez ao Judas , protege do vento, frio e da chuva até Março , até Setembro abriga-nos do sol flamejante e das noites quentes de verão,dá-nos a frescura que não se tem nas irradiantes casas de paredes de pedra calcaria nos solarengos Julho e Agosto.Nota de soberba importância, o facto de ser palco privilegiado de épicas e ébrias lutas,zangas e outras festividades tão entranhadas na cultura indígena.
Nacionalizar o banco do Freixo porquê?,tão simplesmente porque à poucos anos idos se encontrava no epicentro do famigerado triângulo arroxeado constituído pela Carolina ( a sobrevivente), do saudoso Piolho e da Loja da Aida Carouca " à posteriori", Fernando da Carouca.
Outro Banco que requer nacionalização urgente é o que se encontra entre a Quinhentista e a tasca da Ana, local que ainda hoje é muito fielmente frequentado por todos aqueles que possuem princípios de grande moralidade e brandos costumes, do mais vale uma mão inchada que uma enxada na mão ,raios parta a mulher que ainda não fez o almoço , e agora pagas tu que já recebeste a pensão mínima.De realçar que este banco além de aprazível se encontra resguardado de todo e qualquer acidente climático tal é o teor de etanol vaporizado em tão poucos metros cúbicos.
Lembro com nostalgia os Bancos em volta do Garoto local que em variadas épocas do ano era local de são convívio, dissertação politica ideias e ideais da mais fina pureza e humanidade hoje desvanecida com a péssima massa politica existente.Que sorte a de ter assistido à geração que emergiu da miscigenação da força e cultura de juventude, do grito de liberdade e da alegria e crença num futuro melhor ,como podem hoje constatar estes bancos foram erradamente alterados em arquitectura e consequente humanidade sendo por isso apenas local de fotografia,de breve e fugaz passagem e por isso de impossível nacionalização.
Para que não aconteça o que aconteceu com os Bancos do Garoto,e o Bancos da Estação por favor salvem o espírito dos poucos Bancos que ainda restam na Vila.
-PS- Foi com pesar que li a noticia que no banco de sementes do Jardim Botânico que guarda a sementes da flora autóctone, só restam sementes de 1500 espécies, longe portanto das 2500 que eram guardadas no tempo em que lá estudei , estranho mundo este em que se esbanjam milhões em bancos falidos e não se tem tostões para guardar a carga genética que esta jangada de pedra esculpiu e aprimorou em milhões de anos.

sábado, novembro 29, 2008

O Futuro começa hoje "Chanfana"

A história têm uma tendência cíclica e perversa para a repetição e isto sem querer entrar pela mecânica quântica, determinismo ou a teoria do caos.

No Portugal de 1700 o rei sol português, à imagem do rei Francês, vivia na opulência em resultado das riquezas trazidas pelo mar, ouro e pedras preciosas do Brasil e especiarias das rotas afro indianas, vivia bem o rei, assim como a enorme e infértil corte e fidalguia em seu redor, no topo da cadeia, os abastados comerciantes de Lisboa, maioritariamente judeus, quanto ao resto do povo minguava pela fome e doença tendo como única esperança a aventura do mar e emigração como fuga a tão vil existência.

Olhem para as vidas caras luxuosas e fantásticas dos políticos, ex -políticos, banqueiros e dos depositantes em offshores da actualidade e sintam esta sensação de repetição

-Riqueza vem de fora ,os dinheiros vindos de Bruxelas.

-Portugal continua a ser só Lisboa e o resto é paisagem.

-Continuamos a emigrar porque aqui nada conseguimos.

-Obviamente a culpa de algo correr mal desta vez já não poderá ser atribuída aos judeus mas sim entre outros aos políticos, jornalistas, colunáveis e ao poderosíssimo lobby Gay

Por fim em 1755 o terramoto aniquilou Lisboa, culpabilizaram-se os judeus, atitude esta, que os levou a fugir para o norte europeu, tendo estes com engenho criado a mercantil riqueza dos países baixos, o Marquês lá conseguiu endireitar o pais a custa do ouro brasileiro , conseguimos escapar à revolução francesa ,as invasões foram repelidas e a corte e administração pública fugiu em navios rumo ao Rio de Janeiro, por similitude de referir a fuga do Durão. Mas o terramoto de Lisboa foi o precursor da definição de Catástrofe e da tragédia humana, todos os anos existem terramotos e vulcões em zona fracamente habitadas e isso é somente a natureza no seus ciclos normais só o antropocentrismo as qualifica de tragédias.

De seguida vou referir alguns factos curiosos:

· Os Loucos e exagerados anos 20 até que em Outubro de 1929 o grande Crash, Hitler no poder em 33 e a guerra em 39.

· O culto do Luxo e das extravagâncias durante os anos 90 e princípios deste século e o Mini-Crash em 1998 e das dotcom em 2000 seguido da invasão do Iraque em 2002

· Myanmar repeliu com violência as pacifica manifestações dos monges, vejam o que aconteceu em seguida, cheias imensas e uma monção exagerada.

· A china voltou a perseguir e reprimir o povo do Tibete, vejam o que aconteceu em seguida, terramotos no centro da China.

· Os EUA e seus aliados invadiram Iraque e Afeganistão tendo como objectivo final o Irão. Vejam o que aconteceu “Katrina , crise do suprime, preço do petróleo, preço dos bens essenciais, lucros exagerados das financeiras, com subida inexplicável das prestações, e por fim o desabar do castelo de fantasias do capitalismo o grande Crash actual, e ainda agora só a procissão vai no adro!

-“É verdade que o capitalismo venceu, mas ele é tão voraz que se tornará autofágico” disse Marx no sec. XIX.

Alguns filósofos e economistas actuais questionam que novos modelos podemos seguir porque entre outras questões pertinentes:

-Será possível viver sem petróleo?

-Afinal qual será a capacidade auto geracional de alimentos por nação?

-O actual conceito de Cidade será viável com maior desemprego.

Para mim depois de ler os economistas malditos ou não Keynisianos “Freakonomics” de Steven Levitt, “ O Mundo feito à mão” de J.Kunstler e de passear pelas teorias hipercomplexas e neuronais de Minsky e das eras pós financeiras previstas por J.K.Galbraiht, já fui ver a operacionalidade do farpão e da enxada, vou mas é comprar um pequeno rebanho porque o futuro em Portugal só será possível se baseado na pastorícia e na bela chanfana.

Diz a lenda que durante as invasões francesas foram inquinados muitos poços e nascentes de água tendo como objectivo enfraquecer o inimigo, e assim o povo, quase sempre o mais sacrificado mas o mais sábio começou a cozer a cabra velha com o vinho numa caçoila de barro preto misturando-lhe alho, sal, banha e pequenos pedaços de louro, obtendo assim comida confeccionada sem necessitar de água e permitindo-lhe armazenar farto repasto por longos períodos de tempo devido à protectora camada de gordura que vulgo se designa de “coalho”.

Recordando José Mário Branco, que se lixe o FMI.

Viva a cabra, viva a chanfana, viva a Pampilhosa Linda.



sexta-feira, outubro 17, 2008

Le Premier Cri *




"Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer"
Marguerite Yourcenar



Existem desígnios que ultrapassam, inequivocamente, a vontade própria de alguém que, não raras vezes, chama a si toda a liberdade do mundo ignorando que essa mesma liberdade se encontra ausente da sua própria vontade, enquanto ser, e do seu próprio desígnio enquanto ser existente na sua essência. Esta ausência inicial advém logicamente da importância relativa da nossa não-existência, desta ausência de personalidade jurídica pensante, e não invalida que nos demoremos uns instantes sobre matéria tão sagaz e volátil. O que me motiva uma vez mais a partilhar, estimado leitor, consigo esta tribuna está em relação directa com a última obra documental de Gilles de Maistre e com o significado que atribuo à Arte como expressão suprema da ostentação humana: a plenitude criativa.
Le Premier Cri é uma magnífica leitura antropológica sobre a maternidade e traça um perfil desapaixonado mas envolvente sobre a essência da vida, sobre a fragilidade do ser, sobre a animalidade brutal que habitualmente anestesiamos sob as nossas camisas adornadas com botões de punho. Este documentário cinematográfico é uma tela incrivelmente real e insuportavelmente humana sobre a violência do nascimento, sobre a beleza infinita dos afectos, sobre a magnificência da força motriz da humanidade.
Assume-se também como uma leitura plural sobre a singularidade de cada cultura e da própria relação que essa mesma cultura estabelece com a vida. Com elementos estéticos que projectam as dimensões real e transcendental através de vários povos, em várias latitudes, a obra de de Maistre concede uma leitura emotiva e envolvente nos diferentes cenários antropológicos propostos, permitindo concluir, não sem algum regozijo, que perante a incessante massificação e pressão para a homogeneidade cultural a humanidade conserva uma abordagem tão heterogénea num acto que corresponde, simplesmente, ao derradeiro esforço feminino na afirmação do seu poder inato sobre a própria vida.
Gosto da vida como ela é embora a prefira como eu a sonho.

*O Primeiro Choro

segunda-feira, março 31, 2008

A Estranha Dízima de Randulfes


Devido aos bons préstimos de Randulfes ao serviço da coroa, foi-lhe concedido pelo Rei o lugar de Pampiloza mais os vales e montes circundantes, porém não ficaria isento de pagar ao tesouro uma dizima de 3 contos de reis todos os anos referente a tal terra, a pagar sempre no mês de Abril.

Mas os tempos mudaram e devido aos descobrimentos, muito da força útil de trabalho aventurou-se no mar espalhando o gene tuga nos 5 continentes, abandonando os campos e o seu cultivo. Tornou-se assim o país num deserto, restava apenas uma faixa entre o vale do Tejo e o Sado onde havia desenvolvimento com pontes estradas e portos, onde navios num imenso frenesim traziam ouro, especiarias e escravos, levando cereais e mão-de-obra qualificada, tal era a força da emigração que todos os primos de Randulfes (gente importante e empreendedora) foram para a América, por isso se chama à crise financeira que hoje por lá graça de “Crise dos Sub-Primos de Randulfes”.

A cosmopolita Lisboa dividia-se em duas ,uma com os seus sumptuosos palácios de fidalguia subserviente e parasitária dos favores do Rei, do outro uma cidade enorme e suja, com prédios de 6 e 7 andares todos amontoados e sem regras de saneamento ou de planeamento, a ladroagem, a prostituição e o caos urbano reinava, mas ali não se sentia crise pois sobejava ouro e pedras preciosas trazidos de África, Américas ou Índia. O que faltava mesmo em qualquer um dos lados era Pão, Vinho ou Azeite, tal tinha sido a purga das gentes do campo.

Randulfes, que era sábio e sagaz, pediu ao Rei para que a dizima fosse paga em bens alimentares em vez de dinheiro, e na mira de cativar famílias para o lugar, concedeu e sub-alugou vinhas, searas e olivais de Pampiloza, conseguindo assim fixar um conjunto de 100 famílias com a obrigatoriedade destas em Fevereiro e Março trazerem excedentes dos seus produtos agrícolas e encherem um tonel, uma pia e um arcão que ficariam no celeiro da casa de quinhentos que serviria para pagar a décima à coroa.

E os novos habitantes assim fizeram, cultivaram as terras e foram enchendo a pia o arcão e o tonel, até que no mês de Abril seguinte, Randulfes foi provar o vinho, o azeite e a farinha antes de levar tais produtos para Lisboa . Estranhamente o vinho parecia agua, o azeite tinha uma consistência mais ténue e amarela, e de certeza que o que estava no arcão não era farinha.

Foi então que mandou chamar o seu amigo Boticário de Midões, homem de ciência, habituado a conhecer , provar e comprovar a natureza dos produtos, que o ajudaria certamente a descobrir que raio de substâncias estavam armazenados no seu celeiro.

Foi então que o Boticário lhe disse que não havia ali milagres ou feitiços, porque o que estava no tonel era de facto agua, o que estava na pia era óleo de girassol, e o que estava no arcão era gesso e pó de talco, e que tais produtos só ali estavam porque cada uma das famílias tinha pensado que se levassem um almude de agua para o tonel, um cântaro de óleo para a pia do azeite ou um alqueire de talco para o arcão, ninguém iria dar pela diferença, a terra era fértil, mas gente com tal esperteza e finura era de se lhe tirar o chapéu, era maior a riqueza matreira de tal gente do que a terra poderia dar.

Com estes factos perdeu Randulfes alguns dos favores do Rei ,ficando o Boticário de Midões como Administrador da Segurança Alimentar e Económica da Pampiloza (A.S.A.E.P.).

Quanto ao resto das famílias do lugar, descendentes somos, e com outros descendentes nos cruzamos todos os dias,alguns dos quais até escrevem em Blogues.

*Estória Randulfiana tendo como inspiração um conto de Jorge Bucay.

sexta-feira, março 21, 2008

Firme e o Partir das águas

Das zonas mais produtivas da Pampilhosa sobressaem a zona do Pereiro e a das Ribeiras, ambas serpenteadas pelo Cértima, rio este que permitia aguentar em regadio as sementeira de Abril até á altura das vindimas ou seja o milho, o trigo a batata, abóbora ,feijão etc.

Era comum nos anos quarenta a setenta o partir das águas, acto este, que consistia em fazer represas no Cértima de forma que entre vizinhos consecutivos a jusante fosse garantido água a todos, em pelo menos meio dia a dia e meio de água (dependendo da área de cada um) em cada duas luas e isto independentemente de ser de dia ou de noite, é claro que a água do Cértima não era muita, mas o rio nesses tempos tinha um fio de agua que corria durante o ano inteiro. De dia todos respeitavam a lei da partilha, mas quando calhavam os turnos da noite alguns agricultores relaxavam a partir das 11 meia-noites e iam embora para casa deixando a presa orientada para poço ou cisterna, ou deixando o fluir da água pelas regadeiras no campo, ou seja a rega de pé.

Sob mira da ganância de obter melhores produtos eram nestes momentos que alguns agricultores mais afoitos, acercavam-se das represas durante as 2 ou 3 da manhã e desviavam-nas, reorientando-as para os seus terrenos, antecipando assim ou voltando a regar o que era seu.

Havia um cão na família, de nome Firme, que fora educado a nunca largar o dono, ou melhor, o casaco do dono e a tornar-se agressivo quando alguém se aproxima-se do dito casaco, como estão a ver, quando calhava uma água partida durante a noite, o meu antepassado deixava um pau ou a enxada com o casaco e virava-se para o cão dizendo fica aqui firme! Firme.

O cão lá ficava junto ao casaco sendo certinho que ninguém mexia na represa, permitindo nessas noites a rega por inteiro.

Toda esta estória serviu para lembrar que antigamente havia consciência da importância da água e da necessidade da sua partilha como factor de sobrevivência e pelo facto das leis de então serem sábias equânimes .
Mas saindo da estória e entrando na história, hà milhões de anos atrás, no período Jurássico a natureza deixou-nos como feliz herança um lençol imenso de água que vai do vale poente da serra do Buçaco, Pampilhosa e Botão que se estende a sul e poente entre Condeixa até Montemor-o-Velho, circundando a poente-norte por Cantanhede, Olhos-de-Fervença e Anadia constituindo a segunda maior reserva hidrológica nacional subterrânea. (ver foto)

Basta verificar este ano a quantidade de agua com que o Certima nos presenteou para reflectir-mos do problema próximo que será o da falta deste precioso liquido , dentro de 15 anos a agua doce será mais cotada que todo o ouro e petróleo dos dias de hoje.

O que me assusta é facto das pessoas e sobretudo os políticos não terem a consciência deste bem comum que é o das águas subterrâneas, pensando erradamente que no subsolo existem as leis de propriedade que subsistem à superfície como seja , o meu poço ou o meu furo é só meu e tem mais agua que o teu ,ou o famoso:e daqui não tirarás uma gota de agua senão... ou se queres agua tens de a pagar.

Pois é meus caros patrícios , não é o leitão,o pão ou o vinho que nos sustentará no futuro.Temos uma riqueza imensa que corre debaixo dos nossos pés ,não nos lembramos dela,mas provavelmente será dela que num futuro bem próximo nos ajudará a sobreviver neste pequeno oásis.



sábado, dezembro 01, 2007

Entre a ASAE e a Colher-de-Pau

Constatação objectiva: sempre que como ou faço compras num local aprovado pela ASAE fico invariavelmente com AZIA.
A norma ISO 22000-2005 aplicadas aos produtos alimentares surgiu da visão distopiana dos hunos, bardos e outros bárbaros do norte europeu e americano, gente que não sabe comer e muito menos beber e dos quais não me posso pronunciar quanto a outros ...er, mas diz-se por aí que também não.
Arroz de cabidela, cabidela de leitão, sarrabulho, vinho do lavrador, uma tasquinha com serradura no chão, ou a colher de pau como utensílio de cozinha, são alguns dos primores fundamentalistas rejeitados em absoluto pela ASAE; no entanto, e como mau exemplo, em Lisboa e no Porto pode-se comer sushi e tofu, comidas que, para além de servidas cruas, matam milhões de japoneses à milhares de anos, fora ainda o facto dos turistas dos quatro cantos do Mundo que vinham beber um copo À Ginjinha ,e que pelo facto de estar fechada, se suicidaram ou foram para as Canárias ou Lanzarote, como o outro!
Muitas vezes em ciência o que hoje é verdade amanhã poderá ser obsoleto; veja-se o caso da Lei da Gravidade de Newton ou da Relatividade Geral de Einstein confrontadas com as actuais premissas da Mecânica Quântica; mas vamos ao centro da questão.
Defender os interesses do consumidor e impedir fugas a taxas e impostos estão no quadro de acção da ASAE; mas se os ciganos vendem as boas marcas mais barato então aonde é que está a defesa dos nossos interesses? E se eles fogem aos impostos, o que fazer com os Bancos? as Seguradoras? E as grandes Construtoras? Mais uma vez , dura lex sed lex; mas cegamente com os pratos desequilibrados.
Algumas das doenças mais frequentes e presentes nos países desenvolvidos estão relacionadas com o enfraquecimento do sistema imunitário; sabemos hoje que a excessiva higienização da pele, da roupa e da comida debilitam o referido sistema por escassez de estímulos dos agressores normais do meio ambiente. De facto todo o leitor que tenha hoje mais de 25 anos pode ser considerado um sobrevivente da comida das cantinas escolares ou universitárias onde a sopa, embora pobre, era sempre mexida com colher de pau. Se é certo que existem mais bactérias por cm2 numa colher de pau, comparada com uma de inox ou de plástico, existem outros factos relevantes como a dissociação para os meios líquidos de Crómio e Níquel (metais pesados existentes no ínox); facto relevante é também o da natureza da madeira que ao inchar em contacto com líquidos, sequestra as bactérias, provocando assim uma menor transferência destas, sendo obviamente mais inócua que o plástico.
Se à porta dos estabelecimentos se colocar uma tabuleta a dizer Aqui faz-se adoração a Baco e Dionísio, a acção da ASAE ficará limitada por se poder invocar a liberdade religiosa.
Em defesa de todos os santuários de boa comida e de boa bebida da nossa terra, em defesa do sarrabulho e do arroz de cabidela, em defesa da serradura ou cascas de amendoim no chão das tasquinhas, gostaria que a nossa querida terra fosse considerada uma Zona Demarcada Livre e Isenta de ASAE.
Posto isto, acho que hoje vou comer um Negalho.