Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

sábado, abril 18, 2009

A Arte do Engano - "de Krikas a Madoff"



I. Existe um velho aforismo não sei bem se dos Gregos ou de Kung-fu-tze (Confúcio): "Podes enganar alguns durante muito tempo podes enganar todos durante pouco tempo, mas não esqueças de que não podes enganar para sempre".
Uma vez perguntei ao meu amigo Carl se não sentia remorsos de enganar as pessoas. Prontamente retorquiu-me que não enganava ninguém que não quisesse ser enganado pois a cobiça, o desinteresse ou a necessidade de mostrar que se tem é que faz com que sejam enganados; ele apenas alimentava algo dos outros ficando na troca com um valor qualquer.

II. "A necessidade aguça o engenho"
O meu amigo Carl era de facto, e julgo que ainda é, um visionário. Já nos idos anos sessenta com um grupo de compinchas apoderaram-se do sino da nossa Igreja. O acto surgiu da necessidade de ir a Woodstock; assim venderiam o bronze a peso e lets go to sex, drugs & rock-roll.
Sendo o bronze uma liga que contém cobre logo ficam a perceber a precocidade da ideia 40 anos antes do roubo do séc. XXI a do dito Cobre.
Já na Figueira quase ia perdendo a vida ao negociar com um celebérrimo junkie da zona: pegou em analgésicos, ao que me lembro de nome Optalidon, pintou-os de outras cores e vendeu-os como ácido ou anfetas. O flipado que era mesmo muito flipado deu com o logro e quis esventrá-lo. Não sei o que se passou a seguir, com duas de conversa, os dois lá venderam o produto marado as uns kekes de Coimbra morrendo por ali apenas a discórdia.

III. “A maior glória não reside no facto de nunca cairmos mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda”
No fulgor do peace and love , apeteceu-lhe conhecer a Europa. A certa altura teve que recorrer à embaixada portuguesa em Viena de Áustria com o intuito de telefonar ao pai. "Pai manda-me dinheiro para esta embaixada para eu poder regressar a Portugal!"
Tudo bem até aqui, o jovem apenas quis conhecer o mundo. Só que 15 dias depois : "Pai estou na embaixada portuguesa em Paris, tens que me mandar mais dinheiro para o Sud Express!"
É claro que na pouca vida activa que teve chegou a ser o melhor vendedor da BMW. Voltou a cair, voltou a levantar-se como empresário da noite, até chegou a ter das melhores clínicas de Saúde em Lisboa. Ao que sei anda por aí! Tal como o Santana , não se admirem de um dia destes estar no Governo ou à frente de um Banco talvez num desses começados por B…
Verdade foi o que ele me disse uma vez quase a comemorar os seus 50 anos , muito poucos conseguirão fazer e viajar tanto como ele com tão pouco ou nenhum trabalho.

IV. “O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem”
Numa tarde solarenga e prazenteira de Julho fomos a Coimbra comprar umas roupas à Fetal, ver umas gajas e beber um fino no amigo Álvaro do afamado restaurante Giro.
Só que próximo da esquina do amendoim na rua Adelino Veiga , estava um homem corpulento, tez bronzeada e bigode farto a vender rádios e auto rádios com grande alarido mostrando as enormes e extremas capacidades dos seus produtos. O Carl não resistiu, tal como a abelha que procura o mel, e logo se iniciou uma retórica em torno dos produtos à venda que faria calar os Gregos. Após uns bons minutos uma enorme multidão já assistia a argumentação e contra-argumentação até o corpulento homem dizer:
Afinal quem é aqui o cigano? Tome lá este rádio e vá-se embora que me destrói a freguesia".
Ao amigo Carl (nunca fui enganado, penso eu...) um grande bem-haja pela sua lição de vida e aos Pampilhosenses que nunca se esqueçam que ele nos safou em diversas comédias complicadas.
Voltando ao nosso mundo gostaria de vos deixar alguns pensamentos antigos que se adaptam ao nosso triste quotidiano: não se esqueçam que por muito duro seja o que nos reserva o futuro tem que ser cada um de nós a contribuir para a mudança.

VI. Sobre a actualidade económica
Muitas vezes, observando a quantidade de objectos à venda, dizia a mim mesmo: "Quantas coisas me são desnecessárias!".
Aquele que não prevê as coisas longínquas expõe-se a desgraças próximas.

VII. Sobre a vida e a sociedade
Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais.
Ser ofendido não tem importância nenhuma a não ser que nos continuemos a lembrar disso.

VIII. Sobre a Politica
O mestre disse: "Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas não a compreendê-la"
A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem.

P.S.: infelizmente a falcatrua é uma causa portuguesa, com certeza. Cabe-nos mudar esta pesada herança.