“Vossa Majestade se digne tomar em consideração o exposto mandando que a freguesia da Pampilhosa fique anexada ao Julgado de Coimbra, aonde sempre pertenceu, e a cujo Julgado os suplicantes querem ficar ligados pelas circunstâncias que ficam ponderadas.” Este excerto, caro leitor, insere-se no abaixo-assinado elaborado pelos nossos conterrâneos em 1854 em resposta à publicação do Decreto de 31 de Dezembro de 1853 que transferia, à revelia da vontade efectiva da população, a Vila da Pampilhosa da tutela administrativa de Coimbra para o jugo Mealhadense. Fernando II, então regente do reino, provocava ingenuamente uma instabilidade social que é, ainda hoje, latente nos rostos de um punhado de Pampilhosenses. Sejamos consensuais: a reposição da anterior situação administrativa não trataria qualquer mais-valia efectiva à nossa secular urbe. Ora o vácuo do discurso político concelhio e os sucessivos atentados ao nosso ambiente urbano (cartazes de campanha hediondos em privilegiados espaços sociais, ver texto A Mulher de César) tornaram, para o referido punhado, esta dependência insustentável. Em conversa de café, com comparsa de longa data, soube que grupos formados por membros da inteligentia pampilhosense elaboram estratégias e reúnem forças para uma alteração político-administrativa a médio prazo. Ri-me desenfreadamente e, após ultrapassadas as subsequentes gargalhadas, dei por mim invadido por um sentimento de tédio e vergonha. Será que estes tipos desconhecem que fazemos parte da Área Metropolitana de Coimbra? Será que não entendem que é de facto necessário elaborar estratégias mas para causas inteligentes e socialmente necessárias?
Defendo a Universalidade da cultura humana e vejo o mundo como um todo, uno; as fronteiras são para mim meras maquilhagens no Atlas; maquilhagens amadoras! Fico consequentemente aborrecido quando, indivíduos movidos por sentimentos de bairrismo-provinciano, perdem tempo com infantilidades desta natureza: revela futilidade maciça e mentalidade mesquinha. Acredito profundamente, que, com a aproximação da apanha da batata, eles se esqueçam e acordem para outra realidade; esperemos que sim!
*Locução latina que significa “de boca a orelha”; “segredo”.