Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

terça-feira, outubro 11, 2005

Adágio


Há coisas que, pela sua essência simbólica, preenchem inequivocamente o imaginário colectivo de todo um povo. São fábulas maravilhosas de lugares que identificam, reavivam e perpetuam todo um conjunto de lendas, peripécias e aventuras fabulosas. Estas, quando partilhadas e aceites por uma mesma comunidade, transformam-se, com o suave e pautado avanço do Tempo, em património e assumem-se definitivamente como Mito. Os Animistas definem-no como “expressão natural do pensamento humano numa fase primitiva do seu desenvolvimento”; para mim, caro leitor, são pura fantasia, puro deleite! O Mito é todo um conjunto de sensações olfactivas e visuais, um delicioso arrepio na lembrança da sensualidade do gesto que se perdeu. A Fonte do Melo é, para muitos conterrâneos, tudo isto e muito mais: foi início e fim de inúmeras loucuras, foi o abrigo eterno de ousadas tentações, foi a doce descoberta da volúpia do prazer! Eram momentos infindáveis a aguardar a frescura da água que, do Pinhal da Gândara, atravessava a Terra do Linho até às nossas bocas sedentas de desejo; foram momentos mágicos aqueles serões à deriva pelo bosque, embriagados pela beleza natural do espaço em tempos de inocência! Daria tudo para sentir de novo o cheiro a acácia naqueles seios atrevidos. Inolvidável! Dou por mim subitamente, no alto da minha varanda, a acender mais um cigarro; vejo ao longe o Fernando que se aproxima trôpego, denunciando mais um dia de trabalho; “como por instinto divino o Fernando voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Pessoa!, e o universo reconstruiu-se-me com nostalgia e lembrança".

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns. É com agrado que o acompanho nestes "passeios" pela nossa terra.

11 outubro, 2005 14:48  
Anonymous Anónimo said...

A descrição é deveras sugestiva! Chega mesmo a ser sensual...huuummm!

11 outubro, 2005 15:27  
Anonymous Anónimo said...

está a chegar a queda da folha.

11 outubro, 2005 18:00  
Anonymous Anónimo said...

A folha da acácia num qualquer seio desprevenido. Um sussurro no voltear duma coluna, um corpo quente traçado a esquadro e compasso num chão frio de mármore branco e preto.
Um raio de sol ou o espelhar da lua nos teus olhos? Faço do teu corpo o meu templo!
Mito,deleite e fantasia, um nada que é tudo.
"Mas não sou nada. Nem nunca serei. Nem posso querer ser nada, mesmo que em mim tenha todos os sonhos do mundo"
Encontramo-nos por aí, numa tabacaria qualquer...

12 outubro, 2005 13:21  
Anonymous Anónimo said...

Para ti Randulfes:


Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade

12 outubro, 2005 13:43  
Anonymous Anónimo said...

ó Inês calma lá, é que também sou menstruada tal com tu.

12 outubro, 2005 21:11  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

É para mim um prazer, estimada Inês, constatar que os seus comentários incrementam a própria qualidade deste vosso espaço. Para além do relevante conteúdo revelam sensibilidade literária e um sentido estético brilhantes. Até breve.

13 outubro, 2005 01:26  
Anonymous Anónimo said...

É quando estás de joelhos...

É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada de trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredo
se de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra.

E com esta me vou caro Randulfes!!

29 outubro, 2005 00:20  
Anonymous Anónimo said...

"A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?)
espera o ardor do vento
para ser ave,
e cantar.

E.A.

01 novembro, 2005 14:45  

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