Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

quarta-feira, outubro 12, 2005

Vintiéme chevalier





Fonte do Melo – estória I

De certa indigente e idosa moça, que em tempos idos teve como horizonte o que avistamos.
Dona e possuidora de profunda e crónica ferida, quase sempre envolta em gaze, que faria desmaiar o mais bravo dos cirurgiões, calcorreou kilometros de comboios de mão estendida, facto que lhe permitia ter uma qualidade de vida pobre mas rica em Baco e Dionísio.
Claro que a ferida era o seu sustento já que naqueles tempos não havia reformas para pobres ou agricultores.
Nos comboios ostentava a perna e estendia a mão para assim tilintarem uns cobres e, sempre que se apeava, dirigia-se às tascas da outrora aldeia a dizer mal da vida, queixar-se da perna e beber um copito (em nada diferente do que hoje fazemos); falava com homens mais novos mas afoitos e de preferência, com os poucos dentes que lhe restavam, mordiscava uns ossos ou o seu preferido: carapau em molho escabeche.
Nas suas demandas pelos comboios, em outras paragens e em pleno Inverno da vida, conseguiu amancebar-se com um simpático, baixo e cromável velhote que passou a acompanha-la em todas as suas voltas e decisões.
Onde vivia arranjou uma jovem que, com alguma periocidade, lhe trazia água da Fonte do Melo já que a sua perna não lhe permitia grandes aventuranças; até que num certo e quente dia de Verão a dita moça teve que fazer o percurso da nobre fonte até à casa da nossa personagem mais de vinte vezes pois a única resposta que ouvia da idosa, no meio dos gritos no quarto com o simpático velhote, ser: – Oh minha rica filha, despeja esse cântaro aí e vai lá buscar outro que agora não te posso atender!
Moral da estória : enquanto houver água, haverá vida!

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Uma água com gás, mas pouco...
Quem é o rapaz da espada com o número 20?
Mea Culpa ! Confesso a ignorância, aguardo esclarecimento breve...

13 outubro, 2005 21:35  
Anonymous Anónimo said...

Caro,

Em matéria de fontes não podia ter escolhido maior entendida.
A história da Fonte das Lágrimas onde a minha sede saciei com "aquele cujo nome no peito escrito tinha", ou a Fonte das Lágrimas onde pereci, ficam para contar noutro dia...
Desde então vou à fonte, "formosa mas não segura"...
Beba com prazer... as palavras que se seguem...



Esvelta surge! Vem das águas, nua,
Timonando uma concha alvinitente!
Os rins flexíveis e o seio fremente...
Morre-me a boca por beijar a tua.

Sem vil pudor! Do que há que ter vergonha?
Eis-me formoso, moço e casto, forte.
Tão branco o peito! - para o expor à Morte...
Mas que ora - a infame! - não se te anteponha.

A hidra torpe!... Que a estrangulo... Esmago-a
De encontro à rocha onde a cabeça te há-de,
Com os cabelos escorrendo água,

Ir inclinar-se, desmaiar de amor,
Sob o fervor da minha virgindade
E o meu pulso de jovem gladiador.

CP

13 outubro, 2005 22:55  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Estimada Inês, leio não sem agrado o brilhante Soneto do amigo Pessanha e confirmo, dúvidas houvesse, que revela uma enorme sensilbilidade na elaboração dos seus comentários e um enorme bom gosto na escolha dos seus poemas. Até breve.

14 outubro, 2005 00:47  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

resposta a "ju ayha "
Ou tens menos de 30 anos, ou decerto não és cá do burgo.

14 outubro, 2005 20:22  
Anonymous Anónimo said...

eu apostava nas duas...

15 outubro, 2005 06:52  
Anonymous Anónimo said...

Se bem entendi esta estoria retrata, de forma sucinta, uma personagem da nossa praça cuja alcunha era "cavalo vinte". Era uma figura medonha, com muito mau aspecto! Valeu a lembrança de tal humana existência.

16 outubro, 2005 17:01  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Parabéns, você acertou no cavalo!
Mas de tão elementar meu concidadão,qualquer semelhança com a realidade foí muitíssima coincidência.

17 outubro, 2005 20:17  
Anonymous Anónimo said...

Imaginem que em vez de ir a fonte do Melo a rapariga tinha ido à fonte d’aqui que era mais perto, hoje a figura era conhecida como cavalo vinte e dois ... ou vinte e três.
Agora compreendo, sempre me questionei o porquê do vinte.
Fico ansioso pelas estórias seguintes da Fonte do Melo.

21 outubro, 2005 13:29  
Anonymous Anónimo said...

Cavalo Vinte??
Mais uma vez o Bom Cidadão, fazendo jus ao seu nome acerta, de uma forma graciosa, na valente e característica personagem Cavalo Vinte!
Enfim, figuras da nossa Terra!!

Bem hajam todas aquelas que ainda se encontram por cá e também aquelas que já partiram, porém deixando para sempre, o seu cunho e tipicidade aldeã!

24 outubro, 2005 10:17  

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