Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

quarta-feira, novembro 02, 2005

Cones e Bastonetes


"Que seria deste mundo se não fosse um concerto de seres livres?"

Hölderlin


No outro dia encarcerei-te nas objectivas da minha camera, nas células vivas do meu pensamento. Guardei, por entre o entulho e os maus cheiros da minha massa encefálica, uma ponte dos suspiros só para ti! Tu que sempre desejas-te o Mundo, a vida em viagem, viver contra a rotação do Cosmos e saíste do barco para conquistar o oceano adormeces agora com a morfina gentilmente cedida pela tua sociedade de destinos, barulhos, normas e convenções; tu, porque que vives livre na jaula dos teus prazeres? Porque vais perdendo os sentidos, a conta-gotas, com uma ampulheta na mão? Olha que “renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de Homem”. Acorda; “estamos condenados a ser livres”. O mundo não acaba amanhã mas nós…eventualmente!

17 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro,

O mundo não acaba hoje, é pena!
Assim viveria eu, um só dia, dizendo tudo o que penso, fazendo tudo o que queria. E não pensaria, nem um minuto sequer perderia.
Liberdade! A do meu pensamento não tem sido senão o meu maior cárcere, enjaulada em mim, vítima desta ímpia juíza que é a razão.
Fora com ela, que me mata e maltrata e me puxa assim para a realidade. Parem-na que me mata...
Não voltaste numa manhã de nevoeiro, pelo contrário, partiste numa noite escura como breu. E eu suspiro e sorvo mais um trago deste néctar duma qualquer denominada origem controlada.
E caminho sozinha nos meus devaneios...
Nasci livre mas por toda a parte me encontro sob ferros.
Rescindo, e não amigavelmente senão lá se vai o subsídio, e prescindo deste contrato social que um dia um qualquer Rousseau me coagiu a assinar.
Desculpe Randulfes mas hoje dói-me a alma.
Até já

02 novembro, 2005 11:15  
Anonymous Anónimo said...

Caro


Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?

Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?

Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?

Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.

FP

02 novembro, 2005 11:54  
Anonymous Anónimo said...

Na Ilha Por Vezes Habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

(J.Saramago)

02 novembro, 2005 13:12  
Anonymous Anónimo said...

Epá isto hoje deu para a nostalgia!!! NÃO GOSTO!
A vida é para ser chutada para a frente, sem ter que chorar no leite derramado!

Espero que esta veia do "inicial" Randulfes não seja para ficar!!

Aguardo o próximo post...

Cumps ao nosso pessoal.

02 novembro, 2005 15:02  
Anonymous Anónimo said...

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

E com esta me vou caro Randulfes...

02 novembro, 2005 15:16  
Blogger Esfinge Gorda said...

É com muito agrado que tenho deambulado por este espaço de libertação de pensamentos, ou como alguém brilhantemente já lhe chamou "As pulhas do século XXI". Sinto que devo começar por fazer um pequeno reparo: as crianças da nossa urbe já têm inglês no primeiro ciclo, para que futuramente possam partilhar este espaço e entender os seus anglicismos.

Noto este post um pouco nostálgico, com um tom demasiado deprimente, regresse com o seu tom jocoso que tanto nos tem divertido e estimulado a nossa imaginação, ao percorrer os cantinhos mais recôndidos da nossa memória e retirar os tesouros aí guardados há tanto tempo!!!
Dê umas cambalhotas à dor...

"Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão vermelho atapetado-
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas..." (...)

Bem Haja a todos os loucos que por este espaço vagueiam!!!

P.S. A Loucura é uma questão de maioria...já dizia o poeta, não se ofendam!!!

Parabéns e Obrigada Randulfes por nos permitir um novo tema nas nossas tertúlias de sexta e sábado à noite...

02 novembro, 2005 15:32  
Anonymous Anónimo said...

ui...ui... temos uma paixão cibernética!!!!
Encontrem-se um dia destes à noite na fonte do Melo e resolvam o problema de vez!!

02 novembro, 2005 15:59  
Anonymous Anónimo said...

Numa época volúvel, marcada por intrigantes acções jactanciosas e funestas que, de vez em vez, me provocam uma bizarra hematéseme, aceito perfeitamente este sentimento nostálgico e revolta profunda do nosso prezado autor que tanto tendem em reprovar e coibir.

02 novembro, 2005 19:51  
Anonymous Anónimo said...

Pela qualidade do texto, e sobretudo pela cultura evidêciada pelos comentadores . este Blog é muito superior à universidade aberta.

02 novembro, 2005 21:36  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Estimado painel,
o presente texto é tudo menos um hino ao saudosismo ou à nostalgia como, de uma forma geral, foi interiorizado; é mesmo o seu inverso: uma subtil nota de esperança num mundo de brutalidade e alienação; é uma apologia à mais bela das conquistas jamais idealizada e efectuada pela vontade Humana: a Liberdade.
Até breve.

03 novembro, 2005 00:52  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Verifico não sem agrado, estimados leitores, que buscam amiúde referências nesse património colectivo que é a Literatura Portuguesa permitindo, de uma forma lúdica e descontraída, uma sensibilização para belos poemas sa nossa poesia.
Imprime, indiscutivelmente, uma componente cultural e pedagógica neste espaço que também é vosso.
Todo o meu apoio.
Até breve.

03 novembro, 2005 15:15  
Anonymous Anónimo said...

Este seu texto, caro amigo, tem muito de existencialismo. Reconheço Rosseau e o velho Sartre...boa dose!

03 novembro, 2005 15:30  
Anonymous Anónimo said...

A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

(F. Pessoa)

03 novembro, 2005 18:12  
Anonymous Anónimo said...

ò Rand quando passas outra vez á fase das personalidades historicas meu?? Temos um filão ainda inexplorado de grandes figurões... Já agora não te esqueças do grande troavador da actualidade que anda para aí a destroçar corações na baixa do burgo... Era uma falha imperdoável meu...
Bom trabalho

04 novembro, 2005 15:58  
Anonymous Anónimo said...

Parvo,
500 anos depois voltamos a encontrar-nos, mas acho que desta vez vais ficar apeado!
Desta vez samicas te lixes...

04 novembro, 2005 19:16  
Anonymous Anónimo said...

Isto é só estrelas da poética nacional...Curioso!

05 novembro, 2005 22:11  
Anonymous Anónimo said...

para o bom cidadao :
para quando uma fosqueta á beira do teu pc ???

05 novembro, 2005 23:49  

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