Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

terça-feira, outubro 18, 2005

Quid est veritas?*



"Há uma coisa que me intriga. Tu és um patife porque está escrito lá em cima, ou está escrito, porque lá em cima sabiam que tu eras um patife? Qual a causa e qual o efeito?"

JACQUES E O SEU AMO, M Kundera

Vou revelar-vos algo que me aborrece profundamente: não suporto incongruências existenciais; promovem em mim bradipepsia. Defendo o mundo como um todo, gerido por forças maiores; por conseguinte, acredito veementemente na nossa capacidade evolutiva (ver texto Reminiscências do livro VII). Empunhar intelectualmente um credo revela, per se, uma opção profundamente pessoal e idiossincrática. Começo, contudo, a ficar farto de substanciar as inconclusivas tertúlias sobre Religião e , com alguns comparsas de longa data, sem nunca obter um mínimo de tolerância na defesa do meu legítimo direito à diferença! Tentei explicar-lhes que esta temática era, para mim, algo de incoercível. Esforço vão! Berraram em uníssono, aparentemente assustados, “quae te dementia cepit, Deus é perfeito!” Pois, que assim seja! Dementes são eles! A partir de hoje, basta! Conversem sozinhos, cambada de abutres. Visivelmente arrependidos tentaram vender-me lendas sagradas, milagres factuais e a eternidade no paraíso enquanto pediam que ficasse! Não acedi ao pedido; continuaram, relativizando de seguida o valor da História nestas matérias; aí bati a porta ruidosamente e segui, enfurecido, o meu caminho. Não há paciência! Certamente concordará, prezado leitor, que, em matéria de , as premissas desvanecem-se tornando, consequentemente, a lógica obsoleta; mero exercício de retórica. Torna-se necessário também não confundi-lo com Religião. Deus não é para mim uma prioridade, não é algo essencial: foi, contudo, uma necessidade histórica! Ora, necessidades temos irremediavelmente bastantes de várias formas e feitios. Estes Pongídeos, apáticos que vivem no seu nicho social, têm outra percepção; nada contra! Contudo, no emaranhado dos seus argumentos, ninguém me explicou questões tão triviais como se Deus é assim tão perfeito porque não tem um nome original? ou que é Deus a mais que a cafeína, os anticoagulantes ou o próprio sexo, em determinadas situações da nossa vida? Nada; remetem-se invariavelmente ao silêncio! Desde tempos remotos que civilizações colmatam a justificação dos seus mistérios com credos, profetas e invariavelmente com Deus; o Senhor assume assim várias morfologias definindo, no fundo, as nossas mais básicas angústias existenciais. Deus foi, na sua essência, o maior ansiolítico produzido pelo homem. Com uma vantagem aparente: não tinha contra-indicações. Mas daí a tomá-lo às colheradas…

* Que é a verdade? pergunta Pilatos angustiado a Jesus (São João, Evangelho, 18,38)

9 Comments:

Blogger Dr. Navega said...

Quem ????

Nao gostei deste post... é um bocadinho desenxabido !!!

Mas continua que eu gosto de ler o q escreves.

19 outubro, 2005 13:18  
Anonymous Anónimo said...

Essa questão é de facto essencial. É erro grosseiro confundir Religião com Deus!
Juizo.

19 outubro, 2005 20:45  
Anonymous Anónimo said...

Fica a pergunta.?
Sem Homem , existe Deus?
Fica o facto.
O Xamanismo tem a idade do Homem.

19 outubro, 2005 20:45  
Anonymous Anónimo said...

Sandeman o teu comentário é pertinente!Contudo, sesomos obra dvína, somos imperfeitos à sua imagem e estamos destinados (conceito religioso) a viver num sistema solar defeituoso (apenas uma estrela).
Juizo.

19 outubro, 2005 20:54  
Anonymous Anónimo said...

Caros

Fica aqui a lição:

De acordo com Cícero a origem etimológica da palavra Religião, vem de relegere, reflectir atentamente sobre algo que suscita interesse.
De acordo com Atêncio, deriva de religare, colocar a realidade que nos parece sem sentido numa lógica significativa.
A Religião tem a ver com a ligação de diferenças numa unidade totalitária, que adquire sentido a partir duma fonte. Há uma dependência do Homem face a seres metaempíricos, dependência essa que comporta respeito, compromisso e fidelidade.
A Religião define-se a partir do Mistério e da experiência do Sagrado (realidade ontológica superior que se configura de diferentes formas nas várias religiões, exprimindo-se através de hierofanias.
A Religião é uma atitude face ao Sagrado, baseado na Fé ( fides, confiança), implica reconhecimento e aceitação de uma realidade suprema de que se depende e que transcende a nossa existência.
Em última análise, o Homem religioso espera a Salvação (salutem), que mais não é do que a plena realização do ser humano.
O que interessa o nome? Os fundadores? As figuras? O livro?
Subjaz aqui um princípio mais importante: a busca de significado, um estar a caminho permanente, a prossecução da melhoria contínua, a perfeição...
Sou avessa aos dogmas, ao inquestionável. Admito, contudo, que possa existir algo incomensuravelmente maior do que eu.
Mas o Homem precisa de uma base de estabilidade, é impossível apreendermos cabalmente tudo o que nos rodeia, é por isso normal o recurso a este tipo de artifícios. Por mim tudo bem. Preocupa-me, isso sim, o facto de muitos se contentarem com tão pouco, não ousarem sair do casulo. É preciso decifrarmos os enigmas, destruirmos os mitos sob pena de estagnação.

Randulfes,

Custa-me senti-lo tão agitado, tome um Kompensan...

Até sempre

19 outubro, 2005 21:56  
Anonymous Anónimo said...

Gonçalo…
Acho que te perdeste nas tuas próprias palavras, de facto Deus tem um nome original e único que é “DEUS”, as diferentes religiões é que lhe foram dando outras designações. Para alem do mais procuras “logica” no abstrato o que é um erro da dimensão do universo. Quanto às colheradas estamos de acordo. Tem matado mais ao longo dos tempos do que qualquer praga conhecida.

20 outubro, 2005 16:56  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Prezado Barbeiro, não acha demasiada proximidade etimológica entre o os substantivos "Deus" e "Zeus"? Por conseguinte, haverá relação directa? Temo em crer que sim.
O conceito "lógica" é utilizado, neste contexto, na sequência de raciocínio dos comparsas. A minha opinião é essa mesmo: "em matéria de "fé" não há premissas(...)"

21 outubro, 2005 13:03  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Estimada Inês, o seu sapiente comentário é inteligente e pertinente. A sua leitura histórica é enriquecedora mas acredito, contudo, que o futuro traduzira uma pluralidade de leituras e concepções do real inacessivel durante séculos devido a factores de várias ordens.
Até breve.

21 outubro, 2005 13:07  
Anonymous Anónimo said...

A conjuntura internacional actual tem contribuído em muito para uma alteração da nossa percepção do factor religioso. Enquanto que nas sociedades ocidentais se vive um período de afastamento da Igreja e se assiste cada vez mais à secularização dos costumes, no resto do mundo o sentimento religioso, por vezes extremista e fundamentalista, fervilha.
Esta é, no meu entender, a melhor oportunidade para que a Igreja Católica se reaproxime dos fiéis e procure colmatar as muitas lacunas da sua conduta. Tal significa uma abertura, que não me parece que se dê com Bento XVI, relativamente a questões como a contracepção, a interrupção voluntária da gravidez, o reconhecimento do papel da Mulher na estrutura eclesiástica.
Do ponto de vista da teoria dos conflitos internacionais ( e tendo em conta o que o Barbeiro referiu), está na altura de abandonar a ideia de Religião como factor de conflito. A Religião é um factor entre outros e que acrescenta maior complexidade aos conflitos, não sendo uma causa per se. A Religião é, e pode ser cada vez mais, um factor de resolução de conflitos, veja-se a este propósito a acção do Papa João Paulo II, que procurou através da Oração de Assis, desenvolver o diálogo intereligioso e a aproximação intercivilizacional. Também a acção de organizações religiosas como a Comunidade de Santo Egídio ( que operou em Moçambique, mediando o conflito entre a Renamo e a Frelimo) constitui um bom exemplo das actividades positivas desenvolvidas nas últimas décadas.

Quanto ao seu comentário, Randulfes, não nego que haja leituras plurais deste assunto. É um tema controverso e que envolve sentimentos e crenças profundamente enraizadas. Obviamente que as mentalidades não se alteram de um dia para o outro, é um processo moroso e doloroso.
Evite cair no radicalismo, para que as suas opiniões sejam respeitadas também tem que respeitar as dos comparsas. Mesmo que não concorde com elas. Fica-lhe mal, tendo em conta o homem tolerante que diz ser!

Aguardo novidades, de preferência noutro tom! Não querendo fazer deste blog os discos pedidos, será possível presentear-me com uma nova viagem pela sua terra?

Até já...

21 outubro, 2005 21:00  

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