Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

sábado, outubro 22, 2005


Auto da Tasca
Fragmentos do quotidiano


Figuras:

CAROLINA·BÊBADO·VELHOTE

Esta farsa (excerto), a que chamam auto, foi realizada na Vila de Pampilhosa na Era de 2005 anos.

Argumento

Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente Auto, se figura que, no ponto que acabamos de expirar, chegamos subitamente ao balcão da tasca o qual per força nos há-de suster. A sua dona, Carolina, permanece imóvel ao balcão quando entra uma vil figura fedorenta em estado muito crítico:


CAROLINA Oh minha nossa senhora,
CAROLINA que bebedeira trazes!
O Velhote, vendo aquela triste figura, pergunta:
VELHOTE Ouve lá, sofres de gazes?
VELHOTE Vais mas é já porta fora…
BEBÂDO Benho só matar o bicho,
BEBÂDO há muito não escorropicho!
Ordenando à dona da tasca:
BEBÂDO Beja lá se não demora!
CAROLINA Oh meu pobre miserábel
CAROLINA tu é só nódoas de Binho!
BEBÂDO Sujaram-me p'lo caminho…
O Velhote, visivelmente incomodado:
VELHOTE Mas que cheiro insuportável…
BEBÂDO Cala-te oh Belho marreta
BEBÂDO ou amasso-te a corneta!
VELHOTE Olhe, dê-lhe água potável…
CAROLINA Hoje só tenho bagaço.
BEBÂDO Que seja! Benh' ó copito!
VELHOTE Com este cheiro vomito!
Agarrando o Velhote de rompante:
VELHOTE Ai! Ui! Não me aperte o braço...
CAROLINA Não t’armes em Balentão!
BEBÂDO ‘Inda julgas ter tesão…
CAROLINA Largue-o, homem, dê-lhe espaço.
Dirigindo-se à Carolina, em tom baixo:
VELHOTE Vou-me embora. Este animal
VELHOTE fede muito mais que um porco…
BÊBADO Ouça lá, qu’é do meu troco?
CAROLINA Toma lá! Vai pr’ó curral!
O Velhote, no exterior, falando sozinho:
VELHOTE Mas que terra glamorosa
VELHOTE esta bela Pampilhosa
VELHOTE coração de Portugal!

12 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estimado,

Mais um retrato pitoresco!

22 outubro, 2005 13:15  
Anonymous Anónimo said...

Presado Randulfes,

É bom o regresso às origens...
Tenho prestado atenção aos seus "desabafos" e gosto do que escreve. Continue, está no bom caminho. (Será que vai a descer as poças ou a subir a filarmónica...)

22 outubro, 2005 14:13  
Anonymous Anónimo said...

Vejo, não sem agrado, que revisitou Gil Vicente na tentativa de uma crítica mordaz dos costumes e modos de vida da nossa "glamorosa" Vila "no coração de Portugal". Detém em suas mãos um poderoso veículo de informação: os blogs são as "pulhas" do século XXI. Nada a fazer...

22 outubro, 2005 21:00  
Blogger Gonçalo Randulfes said...

Mais um fragmento do "modus vivendis" da nossa querida urbe, prezada Inês; parafraseando "o bom cidadão" é mais uma "crítica mordaz dos costumes". A analogia do conceito de blog com as "pulhas", tradição que perdurou até à decada de 80, é deveras subtil. Estimado "rio de cima" o seu comentário denota apreço e é, portanto, lisongeiro.
Até breve.

24 outubro, 2005 01:23  
Anonymous Anónimo said...

Mais um momento de gloria!!!
Finalmente o reconhecimento que é devido à este grande espaço comercial. Depois da divulgação nacional na TVI por alturas do grande jogo Futebol Clube da Pampilhosa-Sporting tem agora o espaço que merece na Internet.
Lembro os mais distraídos que dos três estabelecimentos que formavam o famoso “Triangulo das Bermudas ( Carolina, Fernando e Piolho ) este é o único que se mantêm aberto e fiel às suas tradições.
Espaço de grandes e longas tertúlias com o melhor “porto” da região, que desde já convido todos a conhecer.
O meu bem haja Carolina.

24 outubro, 2005 08:40  
Anonymous Anónimo said...

Este é de facto 1 local de tertúlia do mais alto nível. Será por ser a Alta o ponto de confluência da cultura pampilhosense?

Bom Cidadão concordo inteiramente com o confronto que faz entre Blog e Pulhas do Séc. XXI! Tem a sua piada e a sua dose de veracidade...

No que respeita ao Randulfes descer as Poças ou subir à Filarmónica, parece-me que este deverá andar mais pelo Largo do Preto (ou do Garoto, como baptizado à época do Grande Xico!)

24 outubro, 2005 10:12  
Anonymous Anónimo said...

Já agora Barbeiro- Sangrador, o seu nick é fantástico! Trouxe à ribalta esse famoso ofício que ainda hoje há quem o pratique... Como? de várias formas e feitios!!! Qual Coelho ou Carapeto...eheheh

24 outubro, 2005 10:21  
Anonymous Anónimo said...

Caro

Assaz ocupada com actividades menos interessantes mas necessárias, tenho acompanhado com regularidade a sua produção literária. É num momento de pausa do afã diário, que me encontro a degustar as suas palavras.
Constato que, não raras vezes, me consegue surpreender. Desta feita, consegue adequar perfeitamente a forma ao conteúdo. Recupera o estilo e o mote vicentino. Afinal, ridendo castigat moris... Apreciei vivamente o cuidado na linguagem, simples e compatível com as personagens e o pormenor delicioso da troca do "v" pelo "b"...
Ressalvo, contudo, que os Autos se prendem com motivos religiosos ou pastoris, sendo as Farsas o estilo utilizado para a crítica de costumes. Todavia, nem o próprio Gil Vicente foi totalmente coerente com esta tipificação já que o Auto da Alma, por exemplo, é uma Farsa no conteúdo mas não no tema.
Prometa-me que asinha nos brinda com o seu génio. Quando é que se aventura pela poesia?
Até breve

25 outubro, 2005 19:59  
Anonymous Anónimo said...

Caro

Assaz ocupada com actividades menos interessantes mas necessárias, tenho acompanhado com regularidade a sua produção literária. É num momento de pausa do afã diário, que me encontro a degustar as suas palavras.
Constato que, não raras vezes, me consegue surpreender. Desta feita, consegue adequar perfeitamente a forma ao conteúdo. Recupera o estilo e o mote vicentino. Afinal, ridendo castigat moris... Apreciei vivamente o cuidado na linguagem, simples e compatível com as personagens e o pormenor delicioso da troca do "v" pelo "b"...
Ressalvo, contudo, que os Autos se prendem com motivos religiosos ou pastoris, sendo as Farsas o estilo utilizado para a crítica de costumes. Todavia, nem o próprio Gil Vicente foi totalmente coerente com esta tipificação já que o Auto da Alma, por exemplo, é uma Farsa no conteúdo mas não no tema.
Prometa-me que asinha nos brinda com o seu génio. Quando é que se aventura pela poesia?
Até breve

25 outubro, 2005 20:00  
Anonymous Anónimo said...

Caro

Assaz ocupada com actividades menos interessantes mas necessárias, tenho acompanhado com regularidade a sua produção literária. É num momento de pausa do afã diário, que me encontro a degustar as suas palavras.
Constato que, não raras vezes, me consegue surpreender. Desta feita, consegue adequar perfeitamente a forma ao conteúdo. Recupera o estilo e o mote vicentino. Afinal, ridendo castigat moris... Apreciei vivamente o cuidado na linguagem, simples e compatível com as personagens e o pormenor delicioso da troca do "v" pelo "b"...
Ressalvo, contudo, que os Autos se prendem com motivos religiosos ou pastoris, sendo as Farsas o estilo utilizado para a crítica de costumes. Todavia, nem o próprio Gil Vicente foi totalmente coerente com esta tipificação já que o Auto da Alma, por exemplo, é uma Farsa no conteúdo mas não no tema.
Prometa-me que asinha nos brinda com o seu génio. Quando é que se aventura pela poesia?
Até breve

25 outubro, 2005 20:00  
Anonymous Anónimo said...

E falando em Autos...

Fala do Lavrador:

Sempre é morto quem do arado
há-de viver.
Nós somos vida das gentes
e morte de nossas vidas;
a tiranos, pacientes,
que a unhas e a dentes
nos tem as almas roídas.
Para que é parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador;
não tem tempo nem lugar
nem somente d'alimpar
as gotas do seu suor.

Auto da Barca do Purgatório

E Com esta me vou caro Randulfes!!!

28 outubro, 2005 01:46  
Anonymous Anónimo said...

Auto digno de um Entremês. Os meus parabéns Randulfes.

26 dezembro, 2005 16:36  

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