Soldados de Baco

“Tomando ele feitor a água em mãos e dando-a eles todos e a cada um deles, e bebendo nela com seus gados, todos eles partes a aceitaram.” *
Trago hoje à sua consideração, estimado leitor, outro lugar que preenche, inequivocamente, o imaginário fértil de qualquer pampilhosense digno desse nome: a Fonte do Lagar. Pertenceu ao Mosteiro de Lorvão até ser altruisticamente cedida, pela ilustre Abadessa D. Ignés de Noronha, aos pampilhosenses que dispuseram, acto contínuo, de mais um espaço de diversão e tertúlia em pleno século XVII. Este ermo, situado estrategicamente entre pinhais e terras de milho, assistiu durante séculos a um ritual a que raros privilegiados tiveram acesso: os famosos serões de sodoma. Supõe-se que esta prática tenha surgido no início do século XIX, após a invasão francesa ocorrida na Serra do Buçaco no ano de 1810. Um grupo de soldados gauleses dissidentes terá encontrado abrigo nas imediações do lugar fazendo posteriormente amizade com um grupo de donzelas; estas, atraídas pelos seus peculiares traços fisionómicos concederam-lhes, sem reservas, protecção e abrigo. Erodentes de sexo, promoviam em grupo verdadeiros festins etílicos, orgias luxuriantes a Baco e Afrodite, banquetes de sexo e deleite que regavam com o melhor Bairrada da época. Acabariam por abandonar a Pampilhosa com as conterrâneas, devido a fortes contestações populares, fixando-se alhures na Finisterra galega. O ritual perpetuou-se durante o período da industrialização pampilhosense, época do avento do caminho-de-ferro que originou na urbe um importante entroncamento ferroviário e uma gradual proliferação da indústria do barro e da madeira. Um episódio ditaria, porém, a extinção da secular prática: uma denúncia efectuada por uns judas junto de um agente da PIDE-DGS, um fedorento miserável que tresandava a figos-mal-passados, em meados da década de 40. Por essa altura tinha-se tornado numa prática exclusivamente sazonal: acabadas as vindimas, conta-se à boca pequena que vinham de todos os lados aos magotes pela madrugada, com o apetite erógeno, eternizando, desta forma, o ritual da carne e do vinho oitocentista. Na essência tudo permanecia íntegro: desde as nádegas esurinas das meninas levianas à austeridade clássica e robusta dos taninos da Baga.
Hoje, restam apenas escassos relatos relativos à prática desta preeminente homíla que prevaleceu durante séculos até à sua abrupta ruptura, na infância do Estado Novo; no meu imaginário fervilham, contudo, os olhares ávidos na frescura daqueles momentos, os rostos jubilados em plena erubescência, os corpos abandonados à loucura caprichosa do invasor que, no coração da Lusitânia, experimentava docemente a sustentável doçura do prazer.
* Excerto do documento que prevía a cedência da fonte aos pampilhosenses
17 Comments:
Lindo! O regresso foi em grande, Randulfes!!
Bem haja, o povo já estava a sentir deveras a sua falta! Mais um grande acontecimento na nossa Terra e um jus perfeito ao lema "Pampilhosa, Uma Terra e Um Povo"
Parabéns!
Ora aí está um costume a reviver... Tornár-se-ia decerto a festa das vindimas mais conhecida do mundo...LOL
Dá-lhes Rand... bom trabalho!
PS: Vou por um posting a mandar o pessoal do amo-te Luso para aqui
meu caro randulfe é com agrado que ao visitar este bem dito blog vejo que ainda temos alguem com espirito critico e de um humor deveras saudavel nao desista e sempre um prazer ler seus escritos
Bem vindo El Tonel!
Gostei de o ver por aqui, acho que não temos é bucha... mas a pinga compensa!!!
Cumprimentos à Maria e à Renata Vanessa...
Prezada "nobile populatione",
As sociedades secretas fazem parte do imaginário colectivo.
Os rituais obscuros, cerimónias misteriosas, veneração a deusas, símbolos invulgares e o notável secretismo causa-me enorme curiosidade.
...
Suspeito de que estes festins báquicos, na "Fonte do Lagar", tenham algo de mais complexo e esotérico, do que na realidade se possa imaginar.
Estamos perante uma cerimónia sexual denominada "Hieros Gamos", onde se venera o sagrado feminino. Acreditava-se que, através deste acto sexual, entre macho e fêmea, se experimentava Deus. Ao comungar com a mulher, o homem atingia um instante climático em que a sua mente ficava totalmente vazia e conseguia ver Deus. (Curiosamente a igreja católica repudiou este ritual pois, assim, perdia a sua exclusividade como única forma de alcançar Deus).
...
Parece que estou a ver as ninfas pampilhosenses e os franco-militares em transe, em movimentos oscilatórios lúbricos, entoando cânticos sensuais e eróticos, provocando assim o êxtase colectivo.
Com um súbito e grotesco rugido, a Pampilhosa inteira parecia explodir no momento decisivo - o clímax. Repentinamente, a fonte expelia toda a sua àgua imaculada para dentro da húmida e escura pia.
A nossa urbe rejuvenescia e atingia um grau sublime e perfeito, naquelas noites, junto à fonte...
deliciosa visão esta.
zeca afonso zeca afonso, cuidado com as companhias rapariga...
"Hão-de viver como soldados de baco na terra,
nunca a paz é a paz quando é enfeitada de guerra,
como um qualquer deus todo enfeitado de breu."
Bravô!
Tenho para mim que foram estes franceses que introduziram o espírito maçónico na Pampi.; Mulheres sodomizadas...já existiam, não já?
Fico no entanto triste com os judas e o figo-mal-passado: é uma de respeito para com a tradição!
É por estas e por outras que abomino o Estado Novo.
Cambada...
Malta, juízo!
caro Zeca Afonso Superstar
"Hieros Gamos" deve ser o título da melhor canção do bandido que já ouvi... fantástica.
Povo da Pampilhosa, não deixem morrer as boas tradições da vossa terra.
Onde é que fica a fonte do lagar?
sodomia , já está , falta gomorra.
Esqueci-me de vos dar um conselho: Quando passarem pela fonte, nunca lhe virem as costas, nunca se sabe!!!... LOLOLOLOL
Randulfes amigo,
Acho realmente interessante o nome do local que descreve: fonte do lagar. Encerra no próprio nome uma antítese que contrasta com a harmonia do tema: mulheres e vinho tinto!
A antítese reside na dificuldae física que o azeite, o macho, enfrenta ao abordar a água, a fêmea. A nota histórico-mitológica revela a facilidade física que tiveram os Gauleses a penetrar nas terras pampilhosenses indo mesmo até às suas próprias entranhas depositando certamente a respectiva semente: uma nota de mérito para os forasteiros!
Dlmc.
Hic ...
Penso que ainda sou parente Hic ...
desses gajos !
malta porreira ...
Hic ...
Meus caros,
Sugeria uma reconstituição fiel e rigorosa deste ritual antigo.
Deixemo-nos de preconceitos e combinemos uma noite inesquecível.
Aguardo dia...
Então?! foram vitimas de mais um assalto? Onde é que está o post que aqui que estava ontem? Hummm... cheira-me a esturro.
Randulfes,
Outra vez?!!!!
Pronto já não cheira... já lá está outra vez!!!
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