A perdição de Lúcio

Sentei-me no chão arenoso e aconcheguei a cabeça no tronco do pinheiro bravo que me protegia do sol escaldante dos finais de Julho. Desci levemente as pálpebras e absorvi com indescritível prazer as dádivas que a natureza me oferecia aos sentidos. Ouvi os grilos fora das tocas, o martelar das cigarras, o zumbir das abelhas, senti uma brisa morna a subir pelo peito e a fazer abanar o trevo amarelo que sorvia gulosamente, vi o aproximar de uma pega cantarolante… deixei-me embalar na harmonia dos sentidos; esqueci-me das bicas curtas, dos cigarros, das miúdas da "Pampi" e das batidas à raposa. Ouví os acordes de uma viola que soava a mel e uma voz doce que cantava baixinho. Ouvi o sussurro de uma donzela que pedia por Deus que a deixassem viver, que a deixassem amar, que a deixassem escolher a sua própria vida, a sua própria forma de se aproximar do mesmo Deus.
Quis o destino que certo dia, num solarengo Domingo de Agosto, ao dirigir-se para a habitual missa se atravessou a bela donzela com o robusto cigano Lúcio (na época vinham tribos ciganas acampar sazonalmente nas terras de Pampilhosa. Erguiam as tendas junto da Feira – Velha; Ficavam entre uma e várias semanas e desapareciam de um dia para o outro sem deixar rasto). Ele tentou fazer o seu papel de cigano, baixando o olhar e fingindo não reparar na sua beleza, mas os seus olhos cruzaram-se com os dela deixando trespassar o que ele tentava esconder. Amavam-se no recôndito dum vasto campo de oliveiras, e sentavam–se um pouco mais adiante numas pedras já perto do fresco pinhal, abraçados e embevecidos pelo amor e pelas doces notas da viola.
Rapidamente se soube dos amantes. A família da jovem donzela tratou de a despachar para um colégio (penso que em Lisboa), enquanto que os homens fortes do clã fizeram por resolver as coisas à boa maneira cigana, não se sabendo até hoje o destino do jovem Lúcio. Uns garotos encontraram a velha viola abandonada junto deste pinheiro que hoje me serve de colo e os ciganos desapareceram mágicamente, regressando passados quatro anos mas já sem a companhia do jovem Lúcio. Depois disso, nunca mais foram vistos.
Quis o destino que certo dia, num solarengo Domingo de Agosto, ao dirigir-se para a habitual missa se atravessou a bela donzela com o robusto cigano Lúcio (na época vinham tribos ciganas acampar sazonalmente nas terras de Pampilhosa. Erguiam as tendas junto da Feira – Velha; Ficavam entre uma e várias semanas e desapareciam de um dia para o outro sem deixar rasto). Ele tentou fazer o seu papel de cigano, baixando o olhar e fingindo não reparar na sua beleza, mas os seus olhos cruzaram-se com os dela deixando trespassar o que ele tentava esconder. Amavam-se no recôndito dum vasto campo de oliveiras, e sentavam–se um pouco mais adiante numas pedras já perto do fresco pinhal, abraçados e embevecidos pelo amor e pelas doces notas da viola.
Rapidamente se soube dos amantes. A família da jovem donzela tratou de a despachar para um colégio (penso que em Lisboa), enquanto que os homens fortes do clã fizeram por resolver as coisas à boa maneira cigana, não se sabendo até hoje o destino do jovem Lúcio. Uns garotos encontraram a velha viola abandonada junto deste pinheiro que hoje me serve de colo e os ciganos desapareceram mágicamente, regressando passados quatro anos mas já sem a companhia do jovem Lúcio. Depois disso, nunca mais foram vistos.
Diz-se que às vezes no início de Agosto se consegue ouvir a viola do cigano, que em espírito vem cantar à sua amada, mas também se diz que só os que têm coração digno, livre de dogmas e preconceitos a conseguem ouvir.
Ao reabrir os olhos deixei de ouvir a viola. Recostei-me preguiçosamente no pinheiro e troquei o trevo por um cigarro... Consciente de que jamais a voltaria a ouvir.
Ao reabrir os olhos deixei de ouvir a viola. Recostei-me preguiçosamente no pinheiro e troquei o trevo por um cigarro... Consciente de que jamais a voltaria a ouvir.
10 Comments:
cuidado com os cigarros junto ao pinheiro, meu caro randulfes, já é a altura de deixar de fumar.Quanto á estória , tá muita gira
gostei muito deste conto, mas por favor localize-me a fotografia que deve ser da nossa zona?
el greco, "outeiros" diz-lhe alguma coisa?
Posso estar enganado mas...
Oh que marasmo...
é perdiçao ou confissão de Lúcio?
passou 1 mês !
será falta de gás ?
agora há umas botijas muito levezinhas ...
Caro Gonçalo Randulfes
O domínio que tem sobre a pena e a mestria com que passa a tinta para o papel, têm um encanto e magia, que me deixam totalmente rendido.
Parabéns e continue.
Ó grande Randulfes... isto tá muito parado pá. A malta gosta do que escreves. Vamos lá a começar a postar com mais frequência.
até á vista Randulfes !
Helloooooooooo!
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