Senhor dos Sonhos

"Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos"
Eugénio de Andrade
Aqui estou eu de novo absorto à procura da dama de copas na mansarda das espadas; aqui estou eu de novo a comprar prazer num maço de cigarros e meia dúzia de copos. Vencido? Talvez…mas não convencido avanço e rebusco no passado justificações para o presente, a quem dedico este momento, que prometo ao futuro. Futuro, o amigo incerto! Vivo com um braço esticado, no limiar da loucura e o outro, atrás das costas, vai vasculhando nas cinzas das recordações e mantém-me a memória em brasa ardente. De que vale um tesouro quando perdemos a chave? A relatividade das coisas, de resto, dilacera-me. Tenho um sonho recorrente: um homem, uma cara incerta, num quarto a resolver os problemas do mundo e os seus; uma névoa de fumo atroz; um fio de luz atrevido e o tipo, ali petrificado com uma dose descomunal de paciência. Eu entro, não ouso interromper a contenda; impaciento-me. Acendo por fim um cigarro. Observo nervosamente os gestos da figura: contudo não há movimento. Indignado com toda esta passividade aparente proponho: há solução? A resposta não surge. E eu? Eu, mergulho de novo no poço das minhas dúvidas e questiono silenciosamente as minhas contradições. Tentar, falhar de novo, falhar melhor. Estou condenado. Vivo com fantasmas na minha vida há muito. Tenho, definitivamente, que admitir o relativo. Absoluto? A morte, essa sim é uma verdade absoluta. Vou aprender a viver com isso. Tenho de aprender a viver com isso: compreendê-la, respeitá-la, fazer-lhe uma vénia quando for caso disso. Por enquanto, vou aguardando tranquilamente pelo tempo que por aqui passa; por enquanto, vou aguentando este sonho que me embala.
4 Comments:
então, sempre recuperaste do coma?
bem vindo!!!
pôrra parece-me que foi a primeira vez que espantei o 25 de Abril, depois de tanta visita frustrada! Quanto tempo foi a pena ó Randulfes?
Estiste dentro? Custoias ou tires
Caro Randulfes,
Há quanto tempo eu não escrevia estas duas palavras, "Ca-ro Ran-dul-fes", (escreve ela com parcimónia e um sorriso nos lábios, degustando cada letra à medida que tecla, lentamente, prolongando o prazer, há tanto tempo esperado...).
Como foi bom... ainda tremo, que emoção, quanta saudade destas palavras que me beijam como se tivessem boca...
Até já
Inês
Enviar um comentário
<< Home