Pampilhosa Linda

Espaço de libertação intelectual no âmbito das realidades transcendentes que ultrapassa as amplas margens da ortodoxia, com incursões na antropologia filosófica e na psicognosia, de cariz socio-cultural tenuamente perfumado com poéticas gotículas proeminentemente irónico-macónicas! Bem hajam!!!

segunda-feira, novembro 28, 2005

Whiter shade of pale

Disse-me que “as noites eram mais frias e mais escuras e que havia muita fome”. Explicou-me que “a vida nesse tempo era muito difícil, trabalhava-se todo o dia e não havia quase nada que comer. Quantas vezes ia-mos para a cama fria com o estômago completamente vazio à espera que o sono nos matasse a fome”. Bebi um gole de chá preto enquanto tacteava uma bolacha Maria, e fui escutando… Dizia que havia bruxas, “eu nunca vi, mas que apareciam umas coisas esquisítas nas encruzilhadas, ai isso apareciam… E então ali ao pé das poças”…Falou-me em lobisomens,” às vezes durante a noite ouviamo-los a uivar ao longe, tinhamos muito medo; os mais velhos diziam que na lua cheia vinham penar para ao pé das casas”… Não era a primeira vez que ali me encontrava a conversar. Por vezes passava por ali e pelo meio de um chá preto ou de hortelã, ouvia histórias do antigamente pela voz de quem as viveu na primeira pessoa. Nesse dia falou-me de um episódio passado há oitenta anos atrás (hoje, há cem): “ ali para os lados da Feira- Velha, numa taverna que lá havia”…Era a história de um rapaz que à procura de melhores condições ingressou nas ferrovias como revisor “um trabalho muito bom, comparado com os trabalhos do campo e das fábricas…E já tinha um bom ordenado”…
Mais uma bolachita…”Por aquela época aparecia por aqui um comerciante que vinha da serra do bussaco, dali da zona de Telhado. Levava produtos hortículas até Aveiro e, na vinda, trazia peixe que vendia por aqui”. Numa fatídica noite de regresso, ali perto da estação, um meliante ter-se-ia aproximado da carroça subtraindo-lhe um saco de feijão e desatando a correr sem deixar rasto. O Pinhal (assim se chamava o comerciante) procurou em vão o ladrão, até que alguém lhe disse que vira um homem com um saco entrar na taverna da Feira-Velha.
Dentro da taverna, o revisor bebeu um copo de vinho (só bebia um) vagarosamente enquanto se inteirava das novidades. Era revisor havia ano e meio, tinha casado e era pai de uma menina, “mas já estavam à espera de outro”. Na despega, gostava de passar na taverna dos pais para os cumprimentar e ver o que era preciso; Bebia um copito e sabia as novidades. “- Parece que roubaram um saco de feijão ao Pinhal... Anda por aí bebedo à procura do ladrão… Diz que o mata, se o apanhar”!…
Por ali ficaram mais um bocadito, talvez até acabar o copo de vinho, com um habitual “até amanhã meu pai”!
No escuro da noite, protegido pelo tronco de uma ameixoeira, o Pinhal ouviu os passos que se aproximavam; Com a pouca luz existente conseguiu distinguir um vulto, conseguiu distinguir um saco… Cego pela lua nova e pela aguardente, saltou detrás da arvore “ladrão, ladrão”! Envolveram-se em luta, uma navalha de barba abriu o pescoço do revisor obrigando-o a deixar cair o saco de roupa suja…
Quando os pais chegaram à rua alertados pelos gritos, já o Pinhal tinha dado pelo seu erro miserável e fugia desesperadamente em direcção à serra.
À medida que ouvia esta história, apercebi-me de que perturbava emocionalmente quem a narrava. Confesso que eu próprio me senti ligeiramente angustiado, por isso quando ela se dirigiu a um armário na sala, eu aproveitei para ir ao jardim saborear um descompressivo cigarro.
Quando regressei, disse-me que “
naquela noite o povo juntou-se e foi atrás do assassino, apanharam-no já depois da Póvoa e quiseram matá-lo, mas depois apareceu alguém que o entregou à guarda”.
De seguida mostrou-me uma fotografia, coisa pequena tipo passe, ratada num dos cantos onde o alto relevo de um selo branco mostrava um distinto "Caminhos De Ferro Portuguezes”.
"-Olhe, era o revisor quando foi para os caminhos de ferro…Queria que eu fosse professora... Nunca chegou a conhecer a minha irmã"…

terça-feira, novembro 22, 2005

Soldados de Baco



Tomando ele feitor a água em mãos e dando-a eles todos e a cada um deles, e bebendo nela com seus gados, todos eles partes a aceitaram.” *


Trago hoje à sua consideração, estimado leitor, outro lugar que preenche, inequivocamente, o imaginário fértil de qualquer pampilhosense digno desse nome: a Fonte do Lagar. Pertenceu ao Mosteiro de Lorvão até ser altruisticamente cedida, pela ilustre Abadessa D. Ignés de Noronha, aos pampilhosenses que dispuseram, acto contínuo, de mais um espaço de diversão e tertúlia em pleno século XVII. Este ermo, situado estrategicamente entre pinhais e terras de milho, assistiu durante séculos a um ritual a que raros privilegiados tiveram acesso: os famosos serões de sodoma. Supõe-se que esta prática tenha surgido no início do século XIX, após a invasão francesa ocorrida na Serra do Buçaco no ano de 1810. Um grupo de soldados gauleses dissidentes terá encontrado abrigo nas imediações do lugar fazendo posteriormente amizade com um grupo de donzelas; estas, atraídas pelos seus peculiares traços fisionómicos concederam-lhes, sem reservas, protecção e abrigo. Erodentes de sexo, promoviam em grupo verdadeiros festins etílicos, orgias luxuriantes a Baco e Afrodite, banquetes de sexo e deleite que regavam com o melhor Bairrada da época. Acabariam por abandonar a Pampilhosa com as conterrâneas, devido a fortes contestações populares, fixando-se alhures na Finisterra galega. O ritual perpetuou-se durante o período da industrialização pampilhosense, época do avento do caminho-de-ferro que originou na urbe um importante entroncamento ferroviário e uma gradual proliferação da indústria do barro e da madeira. Um episódio ditaria, porém, a extinção da secular prática: uma denúncia efectuada por uns judas junto de um agente da PIDE-DGS, um fedorento miserável que tresandava a figos-mal-passados, em meados da década de 40. Por essa altura tinha-se tornado numa prática exclusivamente sazonal: acabadas as vindimas, conta-se à boca pequena que vinham de todos os lados aos magotes pela madrugada, com o apetite erógeno, eternizando, desta forma, o ritual da carne e do vinho oitocentista. Na essência tudo permanecia íntegro: desde as nádegas esurinas das meninas levianas à austeridade clássica e robusta dos taninos da Baga.
Hoje, restam apenas escassos relatos relativos à prática desta preeminente homíla que prevaleceu durante séculos até à sua abrupta ruptura, na infância do Estado Novo; no meu imaginário fervilham, contudo, os olhares ávidos na frescura daqueles momentos, os rostos jubilados em plena erubescência, os corpos abandonados à loucura caprichosa do invasor que, no coração da Lusitânia, experimentava docemente a sustentável doçura do prazer.


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Excerto do documento que prevía a cedência da fonte aos pampilhosenses

segunda-feira, novembro 14, 2005


Movimento Perpétuo
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Na fronteira, no espaço,
No tempo que nos separa,
No limite de um beijo
Que perpétua corações,
À distância de um raio
Pelos pontos do segmento
Atomizo-me pelas células
Circundado de electrões;
Na bagagem a ansiedade
Que me acompanha, por engano,
Conta-me como destrói triângulos
Abalando a perfeição.
Se a esqueço por momentos
Logo me acorda em sobressalto,
Provocando-me
Um insuportável processo de erosão.
Esforço-me em explicar-lhe,
Através do método científico,
Os motivos por que vagueio
Sempre à margem da razão;
O vazio que me preenche
É o que ignoro em conhecimento;
É o que busco,
De alguma forma,
Nas receitas do coração!
Reminiscências do passado
Porque me enviam tantas cartas,
Tantas formas e sentidos:
Geometria de ilusão;
Se fui eu próprio que comprei
O bilhete de partida
Acompanhando-a, lentamente,
À estação?
Num rasgo de loucura,
De incrível lucidez,
Conto os pontos que nos separam
No plano da semi-recta.
O vazio dilacera-me,
Expande-se na expansão do mundo.
É tudo demasiado claro,
Sistemático,
Evidente;
Este nada que sinto
É simplesmente alguma ausência;
Provavelmente a tua...
Atitude desenvolta.
Gostava que fôssemos geridos
Por leis de gravidade alternativas,
Alternativas emoções,
Em mundos paralelos,
Alternativas razões.
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quinta-feira, novembro 10, 2005

Il trovatore

"[...] e fueram muytas gentes de fora a esta uila de pampillosa a uer as romarias da egreja uera cruz e tanbem um trovador que hauia nesta dita uila e que era mui amado per as donzelas de la por rrazom de cantar bien e ser mui fermoso [...] e esse trovador uinha de um reino mui frio e longe con umas servas que trazia per que assy eram tam olhadas per rrazon de su beleza e que as outras donzelas nam achauam bien per serem inuejosas e nam as queriam la [...] muytas gentes uieram de todolos lados e bien assy de uma aldea tida por uil per tanbem ser inuejosa a que chamauam miallada per ser menguada e que como nam era capaz de se gouernar per se era gouernada per um nobre da pampillosa [...]"
( "Crónicas do abade Eusébio, Era de Mil e C.ª LXXJ.ª")

terça-feira, novembro 08, 2005

Os 4 Fantásticos

Rádio bordado a palha ronfando Fado, Futebol e Fátima; TV a preto e branco; Artur Agostinho algures em Dallas vendo JFK criar o D. Sebastião americano, enquanto os nossos bravos soldados diziam: para a minha família um bom Natal e um próspero Ano-Novo, que nós por cá todos bem…, proferindo em voz presa e arrastada com a mesma vontade que eram obrigados a derramar tiros e napalm nas florestas de cajueiros, ou nas fazendas de sisal e café, em nome de um Império do Nada que nada foi nem nunca poderia ter sido, em terras de donos de Neverland que os impeliam a atravessar Espanha em busca, não do Eldorado, mas do simples pão; tempos em que prevalecia o 4 como numero mágico; sinais de um tempo em que uma secular e fechada China vivia a revolução cultural traçada pelo bando dos 4, ao mesmo tempo que em Liverpool 4 cabeludos, de trunfas cortadas ao estilo Stº António, escreviam e compunham baladas que faziam desmaiar raquíticas pseudo-puberes que só de os ver se arreganhavam; tempos em que Waters, Gilmour, Mason e Wrigt compunham finalmente algo de novo depois da Sagração da Primavera, enquanto que por aqui tristemente só… 1111. Bons tempos em que a B.D. corria célere nas catacumbas do Bife, no Salgueiro ou na Almedina de Coimbra com o Super-Homem, os livros de Guerra e Cowboys, os 4 Fantasticos (hoje Fantastic Four), os Dalton que eram 4 e os Metralhas também, momentos em que o Manel do Porto ainda só tinha 4 filhos e o velho Pires dava à manivela colando pela 4ª vez na sessão a fita do Ben-Hur, entre acordes da 4º sinfonia do surdo Beethoven ao mesmo tempo que na matiné ou soirée o Ti- David ou a Rosa 14 permitiam bondosamente correr pelas coxias 4 Indomáveis Patifes, qual Cinema-Paraíso, ao mesmo tempo que se esvaziava uma garrafa de verdadeiro vintage acompanhada de tremoço ou pevide, colado a cadeiras de ferro-e-pau (ferrovia), de tecto azul celestial, anjos dourados que tudo permitiam, até os mais ousados impropérios do Neca; mas tudo isto apenas para dizer que aqui, nesta terra benzida e urdida pelo ferro, barro e fogo, também possuía-mos 4 Formidáveis Magníficos que continuavam impunemente a visitar adegas, qual domingueira peregrinação em volta do tinto (ocultando piri-piri), quais Bhudas buscando a perfeição, monges para os quais a máxima de vida era: "Se és bom Pampilhosense mostra-me então a tua adega"! Com os bolsos recheados de malaguetas (objecto de provação), enxugavam sequiosamente um copo com os bordos maliciosamente besuntados (ou a broa ou o chouriço) com estranhos objectos aos quais não era permitido referir ou acusar cobardemente o toque picante, emborcando o néctar com as faces ruborizadas de dor e ardor ao mesmo tempo que, estoícamente, diziam: Aiií…que este vinho é mesmo bom!.

domingo, novembro 06, 2005

O Melómano

Todos nós somos possuidores de características, trejeitos ou dons que nos distinguem dos outros. Quando estes se tornam insistentes, ou persistentes, transformam-se num hábito, num estilo, transformando-se numa espécie de imagem de marca! O Melómano, distinto comparsa de longa data, desde cedo se revelou detentor de uma particularidade bastante sui generis que o evidenciava e distinguia dos demais: conseguia (ele achava que conseguia) obter diferentes tipos de som utilizando como ferramenta simplesmente a energia cinética, reaproveitando os excedentes de nitrogénio, dióxido de carbono e metano, manipulando-os de forma a provocar uma deslocação de sentido interior/exterior, desencadeando de seguida uma vibração, que em contacto com a cavidade esfíncteriana, reproduzia o seu efeito sonoro, dependente sempre da coorrespondente velocidade de expulsão! Por outra palavras, detinha uma perspectiva musical muito própria e uma opção instrumental no mínimo...irreverente! Recordo-me que durante a instrução primária (na velha Tomaz da Cruz) ele presenteava os outros miúdos (eu incluído) com um incrível manancial de sons e ruídos (para ele seriam os mais belos acordes jamais tocados por aquele tipo de instrumento) ao mesmo tempo que comia a sua sandes de marmelada, sorrindo triunfantemente quando sentia que uma ou outra nota mais difíceis haviam sido conseguidas. Tudo isto claro está, sem cobrar um tostão! Enquanto a maioria dos miúdos tende a perder alguns vícios ao abandonar a infância, como roer as unhas ou tirar os macacos do nariz, o melómano pelo contrário, parecia constantemente aperfeiçoar a sua arte, entrando na adolescência plenamente consciente de que albergava com ele um dom; aliás, já nos tempos de catequese que procurava chamar a atenção dos colegas e da própria catequista, para a bondade de Deus que simpáticamente o tinha favorecido com um dom especial, agradecendo-Lhe com uma ou outra nota mais melodiosa (certa vez até, com uma composição já bastante elaborada, que arrancou os merecidos "aplausos" da própria catequista! Reencontrei-o quando ingressei nos quadros do escalão junior do Futebol Clube Pampilhosa onde ele ocupava a importantíssima posição de guarda-redes. Por vezes, durante as palestras, ouvíamos em "segundo plano" uns acordezitos dispersos a ponto de um dia o treinador lhe dizer: "tem paciência mas vais ter que fazer uma opção...ou queres música, ou queres futebol! Assim é que não dá!" Desatámos-nos a rir. Nas marcações de canto contra a nossa equipa o jogador adversário, encarregado de estorvar a acção do guarda-redes, só caía no erro uma única vez optanto nas seguintes por dar-lhe um pouco mais de espaço em prol da amizade e do fairplay. Em doze jogos que compunham a nossa série não sofremos um único golo de canto! Certa vez (com o Ribeira da Azenha), após o final do desafio e durante o lanche oferecido, o treinador adversário, em tom meio a brincar meio a sério, disse-nos que "em sete anos de distritais nunca tinha visto um guarda-redes como o vosso". Rimo-nos de novo. No apetecido duche quente no final dos treinos, enquanto uns assobiavam e outros cantavam (e outros ainda tentavam acertar com toalhas molhadas em partes do corpo dos colegas consideradas frágeis), o melómano proporcionava-nos breves e semi-breves, soltava fusas e semi-fusas, bradava colcheias e semi-colcheias (quantas vezes tentou o pobre, sózinho, marcar o compasso...). A faculdade não fizemos juntos, a tropa também não, mas fomos juntos à Inspecção. Lembro-me que à volta para casa no comboio das sete, saturado com tropas que vinham de fim de semana, ele resolveu executar um pequeno trecho alusivo ao evento. Uma senhora próxima, que sossegadamente fazia crochet, ao ouvir tamanho balázio, levantou bruscamente a cabeça num misto de incredulidade e desagrado... Ele cerrou os maxilares e, numa fingida expressão de indignação, disparou: "Cambada de porcos... depois não querem que digam mal da tropa!" A senhora assentiu com a cabeça, agradecida por ainda existirem jovens educados e com bons princípios. Recentemente, em tertúlia com velhos amigos, reencontrei o meu flatulente amigo. A dada altura surpreendi-o com este texto, explicando-lhe o que pretendia fazer com ele. Encostados à velha coluna de pedra, lemos juntos e rimos durante uns bons vinte minutos, recordando animadamente estas e outras situações do antigamente. Disse-me depois que o texto "estava um bocadito exagerado", que "também não era bem assim, mas tudo bem, dava para publicar desde que", claro, "lhe salvaguardasse a identidade" (trata-se de um conhecido quadro de uma multinacional Lisboeta), o que respeitei! Conversa puxa conversa, segredou-nos uma situação que se passara, meia duzia de anos atrás, quando ele tentou o famoso golpe de mestre...a obra-prima! Picado pelo desejo e pelos whiskys da noite anterior, tentou a sua cartada mais alta, tentou alcançar o sublime: Arriscou a Overture das Quatro Estações do Vivaldi no decurso de uma cerimónia nupcial, numa das capelas do Palácio de Queluz! Esqueceu-se porém que estava num templo e que aquele chão preto e branco que pisava era solo sagrado... Da sonoridade abafada à sensação de quente e a subsequente viscosidade a escorrer pelas pernas, foi um ápice! Teve que saír a correr! As calças foram para o balde do lixo, o banco do carro foi esfregado durante dois dias pela moldava lá de casa: "Sinhorr áinda tém cheirro"! "Esfregas outra vez... Esfregas até desaparecer"! Despedimo-nos, com as mãos a tocarem-se e a dizer até breve! Já na rua, enquanto a lua cheia me iluminava um cigarro, pareceu-me ouvir distintamente vindo do interior, o sussurrar de um Mi-bemol, o esplendor de um Sol-maior e o desespero de um Fá sustenido!
Apenas sorri...

quarta-feira, novembro 02, 2005

Cones e Bastonetes


"Que seria deste mundo se não fosse um concerto de seres livres?"

Hölderlin


No outro dia encarcerei-te nas objectivas da minha camera, nas células vivas do meu pensamento. Guardei, por entre o entulho e os maus cheiros da minha massa encefálica, uma ponte dos suspiros só para ti! Tu que sempre desejas-te o Mundo, a vida em viagem, viver contra a rotação do Cosmos e saíste do barco para conquistar o oceano adormeces agora com a morfina gentilmente cedida pela tua sociedade de destinos, barulhos, normas e convenções; tu, porque que vives livre na jaula dos teus prazeres? Porque vais perdendo os sentidos, a conta-gotas, com uma ampulheta na mão? Olha que “renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de Homem”. Acorda; “estamos condenados a ser livres”. O mundo não acaba amanhã mas nós…eventualmente!